O climatologista brasileiro Carlos Nobre criticou a ausência de menção explícita à redução de combustíveis fósseis no rascunho do acordo da COP30. “Sem mencionar (a redução dos) combustíveis fósseis, é Belém 2.0. Nós vamos passar de 2 graus (de aquecimento global) até 2.050. É inaceitável. Tem que ter uma menção muito clara nessa COP de super redução dos combustíveis fósseis, como a ciência mostra”, afirmou. Segundo Nobre, é necessário zerar o uso de combustíveis fósseis até 2040, e não até 2045, como havia sido cogitado anteriormente e classificou como “terrível” uma realidade próxima sem que isso ocorra.
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A declaração foi dada após a divulgação, na madrugada desta sexta-feira (21), de uma carta apresentada pela delegação da Colômbia e assinada por mais de 30 países que participam do evento. O documento considera insuficiente o rascunho preparado por André Corrêa do Lago, embaixador brasileiro e presidente da Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP30), e solicita a inclusão clara de um roteiro para abandonar as energias fósseis.
Além de não alcançar consenso, o texto elaborado pelo embaixador provocou fortes reações de diversas delegações, inclusive de países aliados do Brasil. “Devemos-lhes honestidade: na sua forma atual, a proposta não cumpre as condições mínimas para um resultado crível nesta COP”, afirmaram as delegações.
Na carta, à qual a agência de notícias AFP teve acesso, os países demonstram preocupação com a proposta brasileira e afirmam que o documento é de “pegar ou largar”. Além da Colômbia, França, Alemanha, Bélgica e Reino Unido aderiram ao texto.
Entre os cinco maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, a China rejeitou a proposta; os Estados Unidos não enviaram representante à conferência; Índia e Rússia se abstiveram; e a União Europeia, que participa das negociações como bloco, também recusou o rascunho, que não menciona combustíveis fósseis, um dos temas centrais desta edição da COP.
A carta foi divulgada após um incêndio, na tarde da última quinta-feira, 20, ocorrido na Blue Zone, área restrita da COP30, onde ocorrem as negociações e debates do evento, que acontece em Belém, no Pará, um dos estados da Amazônia brasileira. Com a ocorrência, as negociações precisaram ser interrompidas e a área evacuada para a atuação do Corpo de Bombeiros do Pará no rescaldo. Há a expectativa de que os debates se estendam por mais alguns dias, ultrapassando o prazo de encerramento da conferência, previsto para esta sexta-feira.
A proposta do Brasil ocorre semanas após o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, ter concedido à Petrobras a licença necessária para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas para fins de pesquisa.






