A esteticista Jéssica Aline Oliveira de Araújo, grávida de 29 semanas, viveu um episódio angustiante na Maternidade Moura Tapajós, da Prefeitura de Manaus, no dia 8 deste mês. Após sentir fortes dores abdominais e procurar atendimento, ela afirma ter recebido um diagnóstico equivocado de óbito fetal e quase foi submetida a um procedimento de indução de parto para retirada do feto, que estaria, segundo os profissionais da unidade, sem vida. No entanto, horas depois, em uma outra maternidade, desta vez do Governo do Amazonas, um médico constatou que o bebê tinha batimentos cardíacos normais e estava em boas condições de saúde.
O caso aconteceu quando Jéssica sentiu dores intensas no pé da barriga e decidiu buscar atendimento na maternidade municipal Moura Tapajóz, vinculada à Semsa (Secretaria Municipal de Saúde), por estar em tratamento contra hipertensão. Mesmo com dores, ela esperou cerca de 30 minutos para ser atendida na recepção. Após triagem, exames e ultrassonografia, foi informada que seu bebê não apresentava batimentos cardíacos.
Veja o laudo de óbito fetal da Moura Tapajós

“Quando o médico da ultrassonografia disse que meu bebê estava morto, entrei em desespero. Gritei, chorei, fiquei zonza. Não podia acreditar. Até aquele momento, eu só sentia dor, nada mais”, relatou a esteticista ao Amazônia Plural.
Jéssica contou que a equipe da maternidade iniciou os preparativos para indução do parto, argumentando que uma cesariana seria arriscada diante de um óbito fetal. Segundo ela, chegou a receber medicação sedativa e foi orientada a aguardar um leito. Durante esse tempo, relatou ter sentido movimentos do bebê, mas os profissionais atribuíram os sinais a “gases”.
A paciente permaneceu na unidade até a madrugada do dia seguinte, mas não foi levada para o procedimento por falta de leitos. Após sugerirem que ela aguardasse ou buscasse transferência, Jéssica optou por deixar a maternidade por conta própria e procurou atendimento no Instituto da Mulher Dona Lindu, da rede estadual.
Ao chegar na nova unidade, foi prontamente avaliada por um médico que, ao realizar ausculta cardíaca fetal, identificou batimentos normais. Um novo exame de imagem confirmou: o bebê estava vivo, com frequência cardíaca saudável e sem sinais de sofrimento. Segundo o médico, as dores poderiam ter sido causadas por esforço físico recente.
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“Parecia que eu tinha acordado de um pesadelo. Eu chorei muito, mas dessa vez, de felicidade. Meu filho estava bem. Se eu tivesse ficado lá, meu parto teria sido induzido e ele poderia ter morrido”, desabafou Jéssica.
Veja o laudo do Dona Lindú

No dia seguinte, após deixar o Dona Lindú, ela retornou à maternidade Moura Tapajóz para confrontar a equipe médica. Segundo o relato, a médica que havia dado o diagnóstico errado já havia deixado o plantão e a profissional que a substituiu se recusou a atendê-la. Técnicos e enfermeiros confirmaram que todos acreditavam que o bebê havia falecido. Ela tentou realizar nova ultrassonografia, já sob a orientação de um terceiro profissional, mas desistiu por exaustão e solicitou apenas a ausculta, que novamente identificou batimentos do bebê.
A gestante denunciou o caso à Justiça, pedindo que médicos, a maternidade e a Prefeitura de Manaus sejam responsabilizados pelo erro. A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) informou que vai apurar o caso, mas, preliminarmente, afirmou que os procedimentos adotados foram realizados de forma adequada e que não houve negligência.
Veja a íntegra da nota da Semsa
A Secretaria Municipal de Saúde de Manaus informa que está tomando todas as medidas cabíveis para apuração rigorosa do ocorrido, a fim de identificar com precisão o que motivou a divergência entre os exames realizados.
Ressaltamos que todo o atendimento prestado à paciente seguiu rigorosamente os protocolos clínicos estabelecidos pela unidade, que, há mais de duas décadas, se orienta pela prática segura e ética da assistência à saúde.
Reiteramos o compromisso desta Secretaria com a transparência, a segurança e o respeito à vida, mantendo diálogo constante com a população, autoridades e órgãos de controle.