Vanessa Brandão

Eu e O Chocalheiro: encontro com o medo, a tela e o público

A estreia do meu primeiro filme de ficção, em 20 de julho de 2025, trouxe-me emoções grandiosas, mesquinhas, irônicas e uma imensa aceitação do fracasso diante do público, meu maior medo desde sempre. No relógio, faltavam 10 minutos para as 19h, horário marcado para dar o play em O Chocalheiro. Havia sete pessoas na plateia do cinema do Teatro Municipal de Boa Vista. Pronto, dei de cara com o fracasso. Pensei. Já comecei a imaginar as desculpas: “Domingo as pessoas não querem muito sair de casa, imagina para ver um curta-metragem”, “Além do mais, estava chovendo, aí é que o roraimense não sai de casa mesmo”. Respirei fundo, disfarcei a preocupação diante da minha família, que, literalmente, fez o filme junto comigo, dei as desculpas atenuantes para que não se frustrassem tanto quanto eu e, fiquei ali, na porta do cinema, com a boca seca de nervosismo, esperando o público.

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Passaram-se os 10 minutos. Já tínhamos 14 pessoas na plateia. O lugar, planejado para 165 espectadores, estava visualmente vazio. Me veio a resiliência de quem tem 42 anos e acaba de finalizar um doutorado em Literatura, fez-se escritora com uma obra lançada e outra no prelo, com pelo menos quatro projetos culturais aprovados, e as coisas são assim mesmo: quem faz arte, faz para o público. Se o público não vem, paciência. Estamos vivendo a era da superinformação. São tantas coisas acontecendo que ninguém mais consegue facilmente fixar algo na mente. Às 19h05, horário planejado para iniciar a sessão, as pessoas começam a brotar do além, como se um portal tivesse sido aberto. Duas, quatro, seis, em dupla ou em família, em turma. Familiares, amigos, desconhecidos, gente e mais gente. Eu retirei minha cara da lama do fracasso, retoquei a maquiagem e deixei o coração se alegrar aos poucos, diante dos muitos abraços e “muito prazer” que dei.

Depois da exibição, dos aplausos, de ver na telona a mágica acontecer, pensei: “Puxa, eu tenho um filme de verdade”. Mesmo já o tendo visto no computador e no celular inúmeras vezes, pensando nos ajustes finais, foi na magia da sala escura e da telona que tudo se concretizou, e eu me agradeci por ter me permitido aprender e realizar coisas diferentes da profissão escolhida. Dizem que todo jornalista é um contador de histórias nato, e teatro, cinema, performance, são plataformas para nossas muitas narrativas guardadas no peito. Mas, no audiovisual, encontrei um campo fértil, com muitos parceiros e parceiras sensíveis, irônicos, engraçados e competitivos na medida certa, de modo que permeia nossa vida um querer fazer mais e melhor, dia após dia. Meu domingo terminou depois da segunda sessão oferecida, pois a primeira ficou lotada. E depois de uns bons vinhos e música boa, celebrei a descoberta de uma nova eu, que aceita o fracasso e o sucesso como faces da linda moeda chamada vida criativa.

O Chocalheiro estreou e, em breve, estará em festivais de cinema independente pelo país. Deixo uma breve sinopse e a equipe técnica, porque nessa estreia, confirmei que cinema é obra coletiva.

Na fazenda Cruz Nova, um conflito entre pai e filho leva o pequeno Domingos a fugir para a mata. Lá, ele e Onildo se deparam com a figura mítica do Chocalheiro. Forças ancestrais e encantadas revelam verdades profundas. O Chocalheiro é uma fábula sombria sobre culpa, redenção e os mistérios do lavrado.

O Chocalheiro é um filme dirigido por Vanessa Brandão e Leonardo Brandão, com roteiro de Luiz Fernando Pires, Leonardo Brandão, Vanessa Brandão e Cristiane Brandão. A direção de fotografia é de Yare Perdomo, que também assina a montagem, edição e finalização, com colaboração criativa de Thiago Briglia. A direção de arte é de Donara Aguiar. No elenco, Luiz Fernando interpreta o Chocalheiro, Felipe Medeiros é Onildo, João Paixão Mebs dá vida a Domingos, Luigi Brandão é Sebastião e Cristiane Brandão interpreta Joaquina. O som direto é de Kaylon Monteiro, com edição de som por Yare

Perdomo. A trilha sonora original, intitulada O Chocalheiro, é da banda Ditambah, com letra de Rodrigo Mebs, produção musical de Franklin Lima e arranjos, captação e mixagem de Victor Salas. Os vocais são de Rodrigo Mebs, com guitarras de Alexandre Horta e Roberto Mebs, baixo de Jorge Holanda, bateria e masterização por Franklin Lima. A música foi gravada no Estúdio do Bateras Beat. A pós-produção contou com finalização de imagem e correção de cor por Yare Perdomo, e mixagem de som por Victor Quevedo. A equipe de produção teve assistência de Donara Aguiar, Maria Luiza Brandão e Natália Fuhrmann (making of). A produção agradece especialmente à Fazenda Nova Cruz e a diversas famílias da comunidade do Nascimento, em especial, a Onildo Assunção do Nascimento (in memoriam), Joaquina Pereira do Nascimento, e demais apoiadores. O filme é uma realização da Aichan Filmes em coprodução com a Platô Filmes, com apoio do Instituto Harmonic, FETEC – Lei Paulo Gustavo, Prefeitura de Boa Vista, Município de Alto Alegre, Ministério da Cultura e Governo Federal.

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