COP30: Indígenas Munduruku cobram diálogo direto com Lula e ONU e afirmam que a luta dos povos originários é “pela vida do planeta e de todos os humanos”

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Uma manifestação liderada por cerca de 50 indígenas, entre eles mulheres do povo Munduruku, bloqueou, na manhã desta quinta-feira (14), a entrada da área restrita da COP30, em Belém (PA), conhecida como Blue Zone. O protesto, pacífico, buscou chamar atenção para o que as lideranças classificam como falta de consulta e de participação efetiva dos povos originários nas decisões do encontro climático da ONU.

Entre as manifestantes, a líder indígena Alessandra Munduruku, cujo vídeo viralizou nas redes sociais, cobra diálogo direto com o governo brasileiro e denuncia ameaças aos territórios indígenas.

Leia também: COP30: Relatório Amazônia 2025 destaca conectividade ecológica

“Nossa manifestação é pacífica. Estamos reivindicando nossos direitos. A gente tá aqui reivindicando que o nosso presidente Luís Inácio Lula da Silva ouça, tenha diálogo com nosso povo”, afirmou. Segundo ela, decisões estão sendo tomadas na COP sem a participação dos povos originários. “A COP tá decidindo aqui, tá fazendo uma decisão injusta. Sem consultar os povos indígenas”, alega Alessandra.

Com o filho no colo, ela enfatizou que hidrelétricas, hidrovias, ferrovias e projetos de crédito de carbono, muitos deles discutidos ou negociados durante a conferência, têm impactado diretamente as aldeias e ameaçado lideranças locais. “A gente está sendo ameaçado. Nossos territórios estão sendo ameaçados pelas empresas hidrelétricas, pelas empresas de hidrovias, ferrovias, crédito de carbono. A gente tá sofrendo”, denunciou a liderança Munduruku.

Ela também criticou a falta de reconhecimento, por parte dos formuladores de políticas, das condições reais enfrentadas pelos povos da floresta. “A COP30 está decidindo que nós temos saúde, nós temos educação, nós estamos vivendo bem, nós não somos ameaçados, mas nós estamos sem saúde. A nossa saúde é contaminação”, afirmou a indígena, mencionando a ausência de água potável, peixe e a devastação ambiental como ameaças diretas à vida.

A representante Munduruku reforçou que o apelo não diz respeito apenas à causa indígena, mas à preservação global. “A discussão, a nossa luta é pela vida do planeta também. É pela vida de todos os humanos também”. Ela também criticou o governo do Pará, estado que recebe a COP30 e representantes de 160 delegações.  “O governador do estado do Pará tá negociando sem nos ouvir”, afirmou.

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A indígena fez um apelo à ONU (Organização das Nações Unidas), que coordena a Conferência para o Clima. “A gente sabe que a ONU também tem o poder de nos proteger, de proteger a Amazônia”.

Reação da presidência da COP30

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ouviu o grupo e respondeu à liderança. Ele disse compreender as preocupações apresentadas.

“Eu entendo o que você está dizendo e eu posso imaginar as dificuldades e a gente tem visto o quanto tem acontecido acordos em territórios indígenas por parte de atividades ilegais”, frisou. 

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Corrêa do Lago destacou que o governo federal está atento aos impactos de atividades ilegais nas terras indígenas e mencionou a presença das ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) como demonstração desse compromisso.  “Nós estamos muito preocupados com isso e estamos muito atentos a isso. Por isso a ministra Sônia Guajajara e a ministra do meio ambiente, Marina Silva, estão presentes aqui”, disse.

O presidente da conferência negou que decisões da COP30 possam prejudicar os povos indígenas. “Aqui não está acontecendo nenhuma decisão que possa prejudicar vocês. Muito pelo contrário”.

Ele reforçou ainda o papel da ONU na proteção dos territórios e dos povos originários. “A senhora disse no final que as decisões das Nações Unidas são para proteger os povos indígenas”. 

Contexto

A pressão de povos indígenas na COP30 tem crescido desde o início do evento, especialmente diante de negociações sobre bioeconomia, financiamento climático e regulamentação de mercados de carbono, temas que afetam diretamente territórios tradicionais. As lideranças defendem que nenhum acordo climático seja firmado sem consulta prévia, livre e informada, conforme a Convenção 169 da OIT.

A Convenção nº 169 da OIT é um tratado internacional que estabelece direitos para povos indígenas e tribais, focando na não discriminação, na autodeterminação, no direito à terra e aos recursos naturais, e na consulta prévia, livre e informada para decisões que os afetem.

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