Singularidade, ancestralidade, espiritualidade, história, amor, amazônidade, sensibilidade. Todas essas palavras definem o espetáculo “Banzerê – Experimentações Sonoras”, que possibilita ao público um passeio por paisagens sonoras em uma experiência musical, sensorial, plural e profundamente conectada com a sonoridade amazônica contemporânea.
O espetáculo acontece na quinta-feira (21), às 19h, com entrada gratuita e duração de uma hora e 20 minutos, no palco do Teatro Gebes Medeiros, no Centro de Manaus. Nele o público pode conferir o som de um instrumento de cordas criado no Amazonas, que embora ainda pouco conhecido, serviu de base para dois EPs lançados recentemente.
LEIA TAMBÉM: Janja participa de debates com comunidade científica da Amazônia e representantes da COP30 em Manaus
O projeto tem o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Amazonas por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).
INSTRUMENTO AMAZÔNICO
O show “Banzerê – Experimentações Sonoras” é parte de um projeto protagonizado pelo músico e pesquisador Christian Martinez, que há mais de duas décadas se dedica ao estudo e à performance do banzerê, um instrumento de cordas criado no Amazonas, idealizado pelo também músico George Jucá.
“Banzerê é o som das águas, das cordas e das raízes. Um instrumento amazônico e único, que pulsa com o coração da floresta”, explica Martinez.
Desde que recebeu o instrumento, Martinez desenvolveu uma técnica própria de execução e criou trilhas instrumentais autorais com base em suas possibilidades timbrísticas únicas.
“No momento que o boi-bumbá passou a usar o charango e o cuatro venezuelano, ele [George Jucá] teve a ideia de fazer um instrumento inspirado nesses dois. E aí, o apresentei ao luthier Júnior e ele passou mais de um ano desenvolvendo esse instrumento. Eu encontrei o George dois anos depois que ele iniciou esse projeto. Então eu peguei o instrumento e me identifiquei muito, achei que a sonoridade ficou muito transcendental na época. Quis o instrumento, insisti muito, e ele me vendeu. E aí, de lá para cá, eu venho desenvolvendo um trabalho, vamos dizer assim, uma nova forma de harmonização, vou encontrando montagens harmônicas que eu gosto da sonoridade, e dali as coisas vão surgindo. E se passaram esses anos… O instrumento tem um selo de 2001, estamos em 2025, então o instrumento tem 24 anos de idade”, revela Martinez.
Raro e singular, o banzerê carrega sonoridades que dialogam com a paisagem sonora amazônica e o experimentalismo musical contemporâneo.
VOZ COMO INSTRUMENTO
Ao lado de Christian, está a cantora, professora de canto e performer Gabriella Dias, que contribui com intervenções vocais e percussivas que transitam entre o intuitivo, o corporal e o experimental.
A performance também contará com participações especiais, da percussionista e multi-instrumentista Clara Rimoli e da flautista Sara Ortas ampliando os diálogos musicais e criando momentos de improviso coletivo.
Mais do que um show, o projeto propõe um mergulho nos sentidos, nas texturas do som e na criação coletiva, homenageando a inventividade musical do Norte do Brasil.
REPERTÓRIO
A maior parte do repertório do show tem músicas compostas por Martinez, são elas:
1. Solsticius;
2. Infância;
3. Redenção;
4. Infantis Luz;
5. Burracheira;
6. Atotô Cura;
7. Roda transcendental.
Além delas, a canção Argumento (Não mate a mata), de Adelson Santos, íntegra o repertório e acrescenta a reflexão e clamor por preservação ambiental ao espetáculo e novo EP.
“A música ‘Burracheira’ é a que eu mais gosto. Ela foi a primeira música que o meu pai compôs no instrumento logo que pegou nele, quando eu ainda era criança. Eu sinto que tem uma energia bem forte. Inclusive o significado da palavra burracheira é ‘força estranha’, que é o nome da força da Ayahuasca dentro dos centros ayahuasqueiros. Já ‘Infância’ e ‘Infantis Luz’ têm uma energia mais singela, mais de um amor de família, então tem uma coisa bem afetiva nelas. ‘Atotô Cura’ foi composta no processo de gravação do EP e tem, como o nome sugere, uma energia de cura e ligação com essa força. ‘Solsticius’ é uma música que já remete mais a conexão com a natureza, ciclos, tem bem esses sons de paisagem sonora da floresta, da Amazônia mesmo, que é algo que eu me conecto muito também. ‘Redenção’ tem uma energia de transmutação de sentimentos. E, além dessas instrumentais, têm as cantadas: ‘Roda Transcendental’, e ‘Não Mate a Mata’”, detalha a cantora sobre o repertório.
NOVO EP
“Banzerê – Experimentações Sonoras” marca o lançamento oficial do EP “Prem Sudeva e o Banzerê”, gravado em 2024 e disponível nas plataformas desde o último dia 16 de agosto.
O trabalho reúne cinco faixas instrumentais centradas no banzerê, revelando a potência criativa do instrumento em composições que misturam tradição, experimentação e paisagem sonora. A produção musical é assinada por André Magalhães.
O EP Prem Sudeva e o Banzerê está disponível nas plataformas digitais e pode ser acessado pelo link
Em 21 de abril, também foi lançado o EP “Banzerê e a força feminina”, que conta com três canções: “Mulher Ticuna”, “Não mate a mata”, e “Roda Transcendental”.
“Banzerê e a força feminina”, que tem a mulher amazônica, os povos originários, a floresta, e a espiritualidade como fontes de inspiração, também está disponível nas plataformas digitais e pode ser acessado pelo link: https://open.spotify.com/intl-






