Caso Santa Júlia: Polícia fará perícia em sistema do hospital após médica apontar falha para gerar prescrição

A Polícia Civil do Amazonas anunciou, nesta quinta-feira (4), que realizará uma perícia no sistema de gestão do Hospital Santa Júlia, após a defesa da médica Juliana Brasil apresentar um vídeo que aponta falhas na geração de prescrições médicas. A médica é a principal investigada na apuração da morte de Benício Xavier, de 6 anos, ocorrida no dia 23 de novembro, após o paciente receber uma aplicação intravenosa de adrenalina, medicação prescrita por ela. O correto seria o medicamento ser administrado por via oral, através de inalação. Benício sofreu seis paradas cardiorrespiratórias antes de morrer na unidade hospitalar privada.

Um relatório encaminhado pela direção do Santa Júlia à Polícia Civil aponta que a médica admitiu o erro e destaca que o menino deu entrada na UTI Pediátrica após reações derivadas da adrenalina, que atua no sistema nervoso. Capturas de tela de uma conversa entre Juliana Brasil e um médico que atuava na pediatria do hospital revelam que ela reconheceu o equívoco na prescrição. “Eu errei a prescrição”, afirmou a médica. A conversa, cuja veracidade foi confirmada pelo médico com quem Juliana trocou mensagens, também expõe o desespero da profissional diante do quadro crítico de Benício após a aplicação da adrenalina.

Leia também: Caso Santa Júlia: médica admite em mensagens ter errado prescrição que antecedeu a morte de Benício

O delegado Marcelo Martins, titular do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), que conduz a investigação, informou que, durante o primeiro depoimento, Juliana Brasil reconheceu o erro, mas alertou à mãe de Benício que a aplicação deveria ter sido feita por inalação. A médica também admitiu que não revisou a prescrição gerada pelo sistema de gestão hospitalar, que contém as informações fornecidas pelo profissional médico. Apesar de a legislação brasileira prever que diagnóstico e prescrições de medicamentos são atos exclusivos de médicos, Juliana afirmou em depoimento que estranhou não ter sido questionada pela enfermagem sobre o erro antes da aplicação da adrenalina.

Nesta semana, a defesa da médica alterou sua linha de defesa e apresentou um vídeo que mostra uma possível falha no sistema de prescrição do Hospital Santa Júlia. No entanto, o delegado Marcelo Martins considerou o vídeo uma prova “precária” e avaliará o processo a partir de perícia in loco.

Quanto à técnica de enfermagem que administrou o medicamento, ela afirmou que seguiu a prescrição médica corretamente. Diante de inconsistências nos depoimentos, a Polícia Civil realizou, na manhã desta quinta-feira (4), uma acareação entre a médica e a técnica. Ambas foram ouvidas novamente, frente a frente, e mantiveram suas versões.

Número insuficiente de profissionais

A gestão do Hospital Santa Júlia também será ouvida no âmbito da investigação. A Polícia Civil revelou que profissionais do hospital relataram a falta de enfermeiros suficientes para os setores da unidade. De acordo com o delegado, três enfermeiros estavam escalados para o plantão do dia 23 de novembro, data da entrada de Benício, que apresentava quadro de tosse seca e suspeita de laringite. Os enfermeiros eram responsáveis por prestar assistência em cinco setores, incluindo a enfermaria e a Sala Vermelha, destinada a pacientes em estado crítico. “Vamos avaliar até que ponto essa falta de profissionais contribuiu para o desfecho da morte da vítima”, afirmou o delegado Marcelo Martins.

Leia também: Caso Santa Júlia: hospital conclui investigação interna sobre morte de menino de 6 anos

Manipulação de provas

Além disso, o delegado afirmou que três profissionais de saúde que estavam no Santa Júlia no dia da morte de Benício relataram, em depoimento oficial, que a médica Juliana Brasil tentou obter a prescrição original de adrenalina para o paciente, com o intuito de alterar os dados no sistema de gestão hospitalar após o falecimento do menino. a receita fica retira no setor de enfermagem, conforme protocolo hospitalar.

A confirmação da manipulação de provas pode agravar ainda mais a situação da médica na investigação, conforme informou o delegado.

A Polícia Civil trabalha quatro linhas de investigação, incluindo a possibilidade de homicídio com dolo eventual, que ocorre quando os suspeitos assumem o risco de morte. A hipótese de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, também não foi descartada. O 24º DIP investiga, ainda, a responsabilidade de outras pessoas além da médica, não descartando o indiciamento de outros profissionais de saúde que tiveram contato com Benício e da direção do Hospital Santa Júlia.

O Hospital Santa Júlia foi procurado pelo Amazônia Plural para comentar as novas informações. Segundo a assessoria, a unidade não vai se manifestar, pois a investigação está sendo conduzida pela autoridade policial.

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