Amazônia: áreas úmidas guardam 20% das reservas do planeta e influenciam o clima global

Com menos de 5% da área continental do planeta, a Bacia Amazônica responde por 18% da água doce que chega aos oceanos e distribui umidade para outras regiões da América do Sul por meio dos chamados “rios voadores”, que são grandes volumes de vapor d’água liberados pelas árvores e transportados por circulações atmosféricas, que ajudam a formar chuvas em áreas distantes. Cerca de um terço da Amazônia é formada por áreas úmidas, incluindo as várzeas e os igapós, compondo paisagens que se estendem por centenas de milhares de quilômetros quadrados.

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Os dados resultam de projetos coordenados com participação do Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (GP-MAUA), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em parceria com instituições nacionais e internacionais. Entre eles está o Projeto Ecológico de Longa Duração (Peld-Maua), que investiga os impactos de distúrbios naturais, como cheias e secas extremas, e de ações humanas, como queimadas e hidrelétricas, sobre áreas úmidas de igapós de água-clara e campinaranas. Esses estudos têm revelado que a Amazônia abriga uma imensa diversidade de paisagens úmidas que ainda necessitam de aprofundamento científico, incluindo os igapós de rios de água-clara — menos conhecidos que os igapós de águas escuras —, os buritizais e as campinaranas. Somadas, essas áreas representam entre 15% e 20% de todas as áreas úmidas do planeta, reforçando a dimensão global desse patrimônio natural.

O coordenador do Peld-Maua, o pesquisador Jochen Schöngart, chama atenção para a importância das áreas úmidas não apenas como ecossistemas de riqueza natural, cultural e econômica para toda a região, mas também por outros benefícios que prestam à sociedade. 

“Paisagens úmidas fornecem serviços ecossistêmicos vitais para a sociedade e diversos setores públicos e privados, como armazenar e purificar a água, tamponar a descarga dos rios mitigando cheias e secas severas, recarregar as águas subterrâneas, além de reter sedimentos e manter os ciclos biogeoquímicos”, explicou.

Riqueza natural e social da Amazônia

De acordo com a análise do pesquisador, além de serem complexos paisagísticos que funcionam como refúgios de biodiversidade e de uma série de espécies endêmicas, as áreas úmidas são ecossistemas profundamente ligados à história humana na Amazônia.

“A maioria dos sítios arqueológicos deixados pelas populações indígenas encontra-se nas regiões de transição entre áreas alagáveis e a terra firme adjacente ou dentro das paisagens úmidas. Manejos tradicionais das populações ribeirinhas, como pesca, agricultura, pecuária extensiva e extração de madeira e produtos florestais não madeireiros, foram adaptados à subida e descida regular previsível dos rios, contribuindo para a subsistência e economia dessas populações e agregando valor econômico aos recursos manejados localmente”, detalhou Schöngart.

Amazônia e áreas úmidas: lições para o clima na COP 30

Com a proximidade da COP 30, que acontece no mês de novembro em Belém (PA), o mundo volta sua atenção para a Amazônia. Mais do que palco do encontro, a região será apresentada como peça-chave para o equilíbrio climático global, reforçando a urgência em proteger as áreas úmidas da Amazônia, cujo impacto afeta diretamente o cotidiano de milhões de pessoas, dentro e fora do Brasil.

“Precisamos ter uma visão holística que engloba aspectos paisagísticos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos para desenvolver estratégias de conservação e proteção. A ciência ainda necessita de informações sobre como as paisagens úmidas amazônicas respondem e se adaptam à intensificação do ciclo hidrológico”, pontuou.

“Para isso, a ciência precisa avançar na compreensão da vulnerabilidade e resiliência das diversas paisagens úmidas nas regiões que são sujeitas às tendências de aumento das secas extremas, como na região sul, e às cheias severas, como na região norte, e nos dois extremos da porção central da bacia”, completou o pesquisador do MAUA. Isso são desafios para o recém-criado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Rede de Paisagens Úmidas Brasileiras (INCT WETSCAPE), que vai obter e integrar os diversos conhecimentos das paisagens úmidas amazônicas do Interflúvio Negro-Branco na região norte (dominada por igapó de água-preta, buritizais e campinaranas), da Amazônia Central (caracterizada por várzea) e do Araguaia no sudeste da bacia na região de transição com o Cerrado (composta por igapós de água-clara, campos de murunduns, ipucas e outras tipologias de áreas úmidas). 

O pesquisador do Inpa defende que as estratégias de conservação devem levar em conta a variedade de espécies de fauna e flora, suas interações biológicas e funções nos ecossistemas, os serviços que esses ambientes oferecem e também os aspectos sociais, econômicos e ambientais. 

Na perspectiva do cientista, a abordagem multi- e interdisciplinar é fundamental para garantir o uso sustentável desses ambientes críticos, que representam grandes desafios para a ciência, para os povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais (PIQCTs), além da formulação de políticas públicas em diferentes níveis. “Somente assim seria possível orientar ações nacionais e internacionais voltadas ao uso racional das paisagens úmidas e à adaptação desses ecossistemas à mudança do clima em curso”, salienta.

Texto: Ascom / Inpa

 Fotos: Kelvin Uchoa- PeldMaua/ Inpa e Igor Souza- Ascom Inpa

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