Um documento elaborado durante a Cúpula Global de Mulheres e Jovens Indígenas, que contou com a participação de lideranças femininas de toda a América Latina, será entregue à coordenação da COP30 como forma de contribuir com os debates climáticos. O texto reúne propostas construídas coletivamente por representantes de diferentes países e etnias.
A Cúpula Global das Mulheres Indígenas foi realizada no último dia 13, no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), com o objetivo de discutir direitos, clima e estratégias de incidência política. A reunião foi realizada paralela à programação oficial da Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima, que ocorre pela primeira vez no Brasil.
Jaqueline Guarani Kaiowá, cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e uma das lideranças participantes, destacou que a cúpula consolida um processo que vem sendo construído por lideranças em diferentes edições da Conferência do Clima e em outros espaços de articulação. Segundo ela, os debates realizados não apenas dão continuidade ao que já foi tecido ao longo dos últimos anos, como também preparam novos encaminhamentos para as próximas conferências internacionais.

“A gente reúne as lideranças climáticas da América Latina para debater a implementação dos acordos internacionais e os nossos direitos como mulheres indígenas”, afirmou. Ela citou a Recomendação Geral nº 39, que trata especificamente dos direitos de meninas e mulheres indígenas, como um dos instrumentos que precisam avançar na fase de implementação.
Jaqueline também criticou as dificuldades enfrentadas pelos países latino-americanos, entre eles o Brasil, para colocar em prática compromissos ambientais firmados globalmente. Para ela, os entraves não se restringem ao âmbito nacional e demonstram a necessidade de articulação regional. “Os acordos internacionais têm enfrentado dificuldade, principalmente na questão climática. Não depende somente do Brasil. Por isso, é importante a reunião dessa cúpula”, disse.

A liderança reforçou que as mulheres indígenas ocupam papel central na defesa dos territórios e no enfrentamento às mudanças climáticas. “Nós, mulheres indígenas, somos parte do meio ambiente e a terra é parte da gente”, afirmou. Durante o encontro, foi debatida a elaboração de um documento com contribuições das participantes, que será encaminhado à presidência da COP30.
Segundo Jaqueline, esses encaminhamentos representam uma ação de unidade e de fortalecimento da luta por justiça climática. Ela destacou que, historicamente, os povos indígenas foram invisibilizados nos acordos internacionais. “Nós não nos víamos dentro desses acordos. Somente nos últimos anos, a partir de 2022, começa a aparecer a palavra indígenas, povos indígenas, mulheres indígenas”, lembrou.
Fundo Florestas Tropicais
A realização da COP30 na Amazônia, em 2025, foi apontada por ela como um marco simbólico e político. Entre os avanços recentes, mencionou a criação do Fundo Florestas Tropicais (TFFF), proposto pelo Governo Brasileiro e que, para ela, será um mecanismo global destinado a apoiar povos indígenas na defesa de seus territórios.
“Infelizmente, hoje, nós não conseguimos lutar sozinhos contra os invasores nas nossas terras. Precisamos de todos os apoios, e esse fundo vem num momento importante”, afirmou. Jaqueline ressaltou que o fundo abrange todos os biomas e inclui também povos indígenas de outros países, representando um passo conquistado após décadas de mobilização.
A líder reforçou que a construção coletiva entre mulheres indígenas e juventudes é indispensável para garantir continuidade às lutas. “Essas mulheres seguem em luta, formando também essa juventude que está aqui para seguir lutando pela justiça climática”, concluiu.
Fotos: Amazônia Plural






