A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, responsabilizou invasores de terras, os chamados grileiros, por danos ambientais e criticou setores do Congresso Nacional que atuam para flexibilizar a legislação que protege o meio ambiente. Para ela, o agro do bem age para preservar as florestas, motivado, especialmente, por consciência e pelo dinheiro. “Se não for por amor, vai ser pelo bolso”, disse, durante passagem, na última semana, pela COP30 (Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima), em Belém (PA), um dos estados da Amazônia brasileira.
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No setor restrito da COP30, chamado de Blue Zone, Tebet foi questionada sobre os avanços no agronegócio e sobre os danos ambientais associados à atividade e relacionou diretamente a sobrevivência da Amazônia à preservação do Cerrado, destacando que ambos os biomas funcionam de forma integrada. “A Amazônia depende do Cerrado e o Cerrado depende da Amazônia”, afirmou. Para ela, preservar essas áreas é condição essencial não apenas para o equilíbrio climático, mas para a própria continuidade da vida humana na região. “Pra sobreviver enquanto humanidade (precisamos) da floresta amazônica”.
A ministra reforçou o papel estratégico do Cerrado para o abastecimento de água no país, lembrando que o bioma abriga algumas das principais nascentes brasileiras. “O cerrado tem o maior manancial de água doce do Brasil. Se tiver seca, não tem comida na mesa do trabalhador brasileiro”, declarou.
Tebet também comentou a relação entre agronegócio e preservação ambiental. Segundo ela, o setor tem evoluído em práticas sustentáveis, movido tanto por consciência ecológica quanto por necessidade econômica. “Tá crescendo muito fortemente. A maioria absoluta do agro hoje preserva. Se não for por amor, vai ser pelo bolso”, disse. A ministra citou a própria experiência como produtora rural. “Eu falo por mim, que tenho propriedades, se eu destruir onde está o manancial da água, que começa lá no Pantanal, no meu estado, eu não tenho água pra dar de beber para o gado. Eu não tenho como utilizar a água pra irrigar a plantação”.
Negacionistas no Congresso Nacional
Ela reforçou que “o Agro do bem, que é a maioria absoluta, ele sabe que tem que preservar o meio ambiente”, mas destacou que o desafio ambiental não está no setor produtivo, e sim na criminalidade e na política. “O que a gente tem que combater muito fortemente são os grileiros. Os invasores das matas, que vão fazendo aquele arco do desmatamento. Eles vão comendo pelas beiradas. Desmatam, cercam e depois vão ao Congresso Nacional tentar ampliar o perdão dos crimes ou tentar diminuir as áreas de proteção e de preservação para o desmatamento”, exemplificou.
A ministra criticou diretamente parlamentares que, segundo ela, atuam sistematicamente para flexibilizar regras ambientais. “Então, começa uma conscientização maior do agronegócio e o maior desafio não está no agro. O maior desafio está nos negacionistas do Congresso Nacional”, afirmou.
Tebet, que foi parlamentar por oito anos, disse ter testemunhado repetidas tentativas de anistiar crimes ambientais. “Eu fui por oito anos parlamentar e por oito anos eu via. A cada três, quatro anos, eles (parlamentares negacionistas) esperam certos setores econômicos desmatarem qualquer bioma e depois eles tentam aprovar algum projeto de perdão no Congresso Nacional”. “Eu mesma consegui barrar alguns e a gente tem que ficar esperto no Congresso Nacional. Isso é muito importante”, completou a ministra.
As declarações de Tebet ecoam debates centrais da COP30, que tem colocado o combate ao desmatamento e a transição para modelos de desenvolvimento sustentável no centro da agenda global. A fala da ministra aponta para uma disputa interna no Brasil, entre o avanço de políticas ambientais e pressões por flexibilização de normas, especialmente em áreas de expansão do agronegócio e de conflitos fundiários.
Foto: Amazônia Plural






