As eleições se aproximam e eu gostaria muito de ver mais mulheres indígenas como parlamentares no Congresso Nacional e nos legislativos estaduais. O senso de coletividade, a sabedoria intuitiva e prática, a habilidade para o diálogo sem as amarras do orgulho e da competitividade que, geralmente, afligem os homens , entre tantas outras características inerentes ao ser feminino, fazem-me ver nas mulheres indígenas uma esperança para um parlamento que hoje se afoga nos interesses escusos e pessoais.
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Com alegria recebi a notícia de que a ativista indígena Vanda Witoto será candidata em 2026 pelo Partido dos Trabalhadores. Antes, pela Rede, Vanda — que já teve mais de 25 mil votos em 2022 para deputada federal — não conseguiu se eleger para vereadora no último pleito, quando obteve pouco mais de 8 mil votos. Os povos originários do Amazonas merecem dar essa alegria a si mesmos e à sociedade envolvente, provando que a força da mulher indígena e o parlamento combinam. É provável que no PT ela obtenha mais apoio e condições de realizar uma campanha mais ampla, com chances reais de ser eleita.
Roraima já conseguiu esse feito em 2018. A parenta Joênia Wapichana foi eleita para a Câmara Federal com mais de 8 mil votos e teve um mandato consistente, com efetivas ações em benefício dos povos originários. Hoje, como presidenta da Funai, tem feito um trabalho fundamental de demarcação de territórios, como poucas vezes se viu na história do país. Será que Joênia virá novamente? Nas terras de Makunaima, a frase “parente vota em parente” ganha cada vez mais consistência, e o movimento indígena organizado consegue mobilizar boa parte de seus pares para votar em um dos nossos. Algo que o Amazonas deveria aprender a fazer, ajudando o Brasil a ter representantes originários para defender nossos interesses, nossa cultura, nosso modo de vida (na cidade ou na comunidade), a educação e a saúde para os pequenos, além de denunciar as ameaças garimpeiras e grileiras. As mulheres indígenas sentiram na pele o resultado de tantas violências ao longo da história, por isso, merecem ocupar esses espaços. Se não for uma de nós, quem será por nós?
Que venham mais Vandas e Joênias somar forças com Célias e Sônias. E que tenham coragem para enfrentar uma campanha e as duras críticas antes, durante e, se vitoriosas, depois. É preciso não romantizar as eleições: a violência política no Brasil é um fato que segue se repetindo. É preciso ter a casca dura dos tracajás da Amazônia, a força e a calma da sucuri, a ferocidade da onça-pintada e a sabedoria e agilidade do beija-flor, que sabe que seu bico é pequeno, mas, não desiste da polinização de flor em flor.
Sigamos… e vote em uma mulher indígena no próximo pleito. Contracolonize o pensamento que leva a entregar o voto ao velho arquétipo da liderança masculina (erro que eu mesma já cometi, é preciso confessar). Dê-se a chance de ser representado por uma mulher originária!