Há um meme que esporadicamente ressurge nas redes sociais, onde se culpa o preço da pipoca, do refrigerante e do ingresso pelo esvaziamento das salas dos cinemas. Posso dizer categoricamente: isso não procede totalmente.
A última vez que fui a um cinema foi para assistir “Parasita”, o relançamento de “O iluminado” e “Doutor Sono”, lá por 2019. De lá para cá, com a pandemia de Covid-19 colocando todos em isolamento, acabei me rendendo ao streaming. A normalidade das atividades pós-coronavírus não mudou meu comportamento, pois antes eu já havia decidido abandonar de vez a sala escura e a tela gigante.
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Em conversas com outros amigos cinéfilos, vi que não estava sozinho nessa decisão. Mas por quê? A resposta é bem simples e vai além de lançar a culpa nos preços altos, pois hoje sempre as redes de cinema mantém promoções com valores mais em conta em determinados dias da semana: foi o comportamento do público que nos afugentou.
A evolução tecnológica dos smartphones e a popularização das redes sociais criaram uma legião de pessoas em busca de atenção constante, por vezes com ações bizarras e completamente idiotas. Daí surgem as atitudes inconvenientes e muitas vezes desrespeitosas. Recentemente, uma sessão de cinema (salvo engano, em São Paulo) foi perturbada por uma certa “influenciadora” seguida de uma claque de aduladores fazendo uma live para uma rede social. Nem preciso dizer a confusão armada com a indignação dos espectadores. Só faltou uma fogueira.
A falta de consciência não é “privilégio” desses tais criadores de conteúdo (muitas vezes sem importância e inútil). O incômodo passou das conversas e risadas inoportunas durante a exibição do filme para pessoas viciadas em tecnologia que parecem não saber da existência do modo silencioso de seus celulares, evitando assim que o toque do aparelho ou a luz emitida por sua tela atrapalhem a concentração dos demais. Há ainda os mal educados com pés nervosos chutando os nossos assentos, a turma da língua solta nos celulares, crianças em sessões impróprias (lembro que quando fui assistir “O Parque dos Dinossauros”, em 1992, um casal levou o filho pequeno para o cinema, e o pobrezinho ficou em prantos, apavorado).
São muitas facetas para essa questão. Certa vez, quando fui assistir “Traídos pelo Desejo”, um cidadão atrás de mim, acompanhado da namorada, começou a praguejar no momento da grande revelação do filme, em uma clara demonstração de homofobia e estupidez. O problema não é novo, mas piora a cada vez. A idiotização provocada pelo vício em redes sociais é evidente. Basta ver as notícias falsas proliferando a torto e a direito.
Sobre a carestia da pipoca e do refrigerante… Bom, isso sempre foi contornável. Quem nunca foi ao supermercado do shopping center (hoje o refúgio das salas de cinema) para comprar chocolates, biscoitos, suco e refrigerante a preço bem mais em conta e curtir seu filme satisfatoriamente? O único problema é a sujeira que o mesmo povo inconveniente deixa nos assentos.
Hoje, voltar a frequentar cinema não é impossível para mim, mas é muito difícil de acontecer. Pagar caro (ou não, no caso de dias promocionais) para ser incomodado pela falta de bom senso dos outros está totalmente fora de cogitação. Fico com os streamings com seu grande catálogo de filmes, séries, documentários e minisséries para assistir a qualquer hora, podendo pausar e continuar acompanhando depois. Tudo na tranquilidade da sala escura de minha casa.
Cinema, definitivamente, não é para qualquer um.